terça-feira, dezembro 18, 2007

Sorte e feliz natal

Dias contados em calendários ansiosos pelo término do ano. Semanas festivas onde o consumo soterra os verdadeiros motivos das celebrações natalinas. Shoppings centers lotados, comércio esperançoso por bons resultados. O ciclo terminará no mesmo local onde começou. Janeiro logo deixará 2007 no passado e assim, mais um ano chegará com expectativas repetidas.
O que desejar para o ano de 2008? Paz, saúde, dinheiro, amor, felicidade. Crescimento sustentável, economia forte, menos corrupção, menos desigualdades, mais atitudes positivas. Verão com sol, início da temporada de futebol, carnaval na praia, menos enchentes. Desejar o óbvio, todos os anos, é isso o que fazemos.
Assistimos nesse ano, pela primeira vez, uma derrota substancial do governo Lula que perdeu a batalha pela prorrogação da CPMF. Vemos, ainda longe, um início de rearticulação da oposição. O governo que até esse momento não havia encontrado barreiras aos seus anseios, terá no ano que se aproxima que modificar alguns de seus planos iniciais. Basta saber o quanto o povo brasileiro pagará por tais modificações.
Outro ponto importante já agendado para o ano que ainda não nasceu são as eleições municipais. As boatarias partidárias já são ouvidas e com elas, podemos esperar pelas tão marcadas promessas. Mas esse assunto não é importante, pois é tempo de natal e nessa data estamos mais preocupados com os presentes que daremos aos nossos amigos secretos que as mazelas políticas que virão à tona independentemente do que aconteça.
O ano de 2007 ficará marcado de maneiras muito diferentes. Assistimos a derrota apertada de Hugo Chávez no referendo pela reforma constitucional na Venezuela. O Brasil inteiro ficou em alerta depois do pior acidente aéreo da história da aviação nacional. Renan Calheiros renunciou ao senado depois de inúmeras acusações. Medalhas que antes não tínhamos apareceram no Pan do Rio. O Corinthians em uma ano ruim foi rebaixado à série B. A pirataria lançou às alturas a divulgação do filme mais polêmico produzido no Brasil – Tropa de Elite. Entre essas, inúmeras notícias, boas e ruins, estamparam as capas de nossos jornais e serão revividas nas retrospectivas de final de ano. Mais um ano de vida para muitos e um ponto final na de tantos.
O que de fato vale a pena ser desejado aos brasileiros para o próximo ano? Sorte, em minha opinião. Sorte àqueles que utilizam o SUS, sorte àqueles que desejam um emprego, sorte a todos de boa fé que se candidatarão às próximas eleições, sorte na hora de apertar o botão e escolher um governante, sorte.
Que 2007 se encerre com dias felizes e que 2008 nasça com vibrações renovadoras. Um Feliz Natal para todos são os votos mais sinceros que podemos desejar nessa época e pedir por um bom ano não é pecado algum.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Reforma necessária???


Em um país carente por reformas eficazes que possam interferir positivamente no cotidiano da população é de se espantar a total falta de critérios utilizada pelos governantes. Uma coisa que de fato funciona no Brasil é o processo eleitoral e, pasmem, é exatamente nisso que pretendem mexer.
A Subcomissão Especial de Segurança do Voto Eletrônico, da Câmara dos Deputados, chegou à “brilhante” conclusão que o processo eleitoral brasileiro precisa de mudanças. Entre as modificações propostas pela subcomissão podemos destacar a adoção de voto impresso para conferir com aquilo que foi votado eletronicamente, título de eleitor com fotografia e voto em trânsito.
No Brasil, depois de muita propaganda e testes, o voto eletrônico foi adotado com abrangência quase que total. O resultado da eleição é conhecido, muitas vezes, no próprio dia e a população aprendeu o mecanismo. Agora, deputados rotulados como especiais, acreditam que alterando alguns pontos, o processo ficará melhor.
Com uma infinidade de emendas constitucionais para votação, com inúmeros processos em espera na câmara, a bola da vez é imprimir o voto para conferência, alegando que dessa maneira existirá maior transparência no procedimento eleitoral. As perguntas que ficam são: Qual a transparência que existe nos votos secretos da câmara? Porque mexer em uma coisa que está dando certo sem a certeza de que ficará melhor?
Com um novo ano eleitoral se aproximando, notícias que façam o nome ficar em evidência são mais que bem-vindas, por essa razão, trabalhar naquilo que não é preciso torna-se um caminho fácil para a exposição na mídia. Novas promessas virão e as votações mais urgentes ficarão novamente encostadas e, a cada mandato, as verdadeiras mudanças na legislação, necessárias para um país melhor, continuarão na gaveta.

sexta-feira, agosto 17, 2007

O espetáculo injusto

Na sociedade da injustiça os atores são conduzidos por diretores de má fé. O espetáculo da vida é regido por um governo fraco e egoísta. O processo é transformado e adaptado a cada dia com moldes não honestos. Poucos ganham e muitos perdem. O tempo corre e marca os minutos de uma vida injusta
A criança nasce. Planejado ou por acaso, o recém nascido quando chega ao mundo encontra as coisas prontas. No Brasil e no mundo, todos os dias, em cada hora e cada minuto do relógio, a vida se renova, muitos chegam e outros tantos se vão.
O planeta dividido em suas milhões de complexidades absorve todos os dias milhares de novos seres. Os cartórios registram a cada hora do dia centenas de milhares de novos nomes. As certidões emitidas são guardadas por toda uma vida.
A criança cresce. Começa aprendendo os primeiros passos e as primeiras regras para ser inserida e participar de fato das transformações diárias que a sociedade estabelece. Tem contato desde seus primeiros minutos com sua língua natal que será aprendida e por meio dela o primeiro relacionamento de tantos será provocado.
A criança é educada. Esse ponto, como os demais, deveria ser obrigatório para todos, mas não acontece dessa forma, pois o país falha em diversos setores e consolida seus erros arruinando toda a base da sociedade não investindo em educação. Na escola são ensinadas as técnicas e o processo pelos quais o mundo pode ser moldado. Também é ensinado aquilo que já foi feito antes, as façanhas e as conquistas de outros seres humanos são contadas em sala de aula, como se fossem exemplos a serem seguidos. Da mesma forma, os erros cometidos são discutidos à exaustão para que não sejam novamente executados. Erros acontecem. É da natureza humana. Poderiam ser evitados, ou não.
Tudo é um processo. Uma técnica de modelagem em série com o escopo de padronizar a população. Os modelos criados e aceitos foram implantados drasticamente no senso comum fazendo com que os próximos passos da criança sejam dados quase que automaticamente, ou seja, continuar estudando para conseguir um emprego, encontrar um parceiro para se casar e ter filhos e dessa forma dar continuidade ao processo.
O processo. A sociedade estabelecida com suas regras, aceitações, preconceitos, desigualdades e dificuldades, carrega dentro de suas leis a essência de ser portadora de vícios que se repetem ao longo de gerações. Passados de pais para filhos, os princípios e as virtudes de cada família em particular modificam também de forma particular a sociedade. Tudo isso misturado ao fato do ser humano ser carente por excelência culmina, fulminantemente, com uma eterna busca. Cada ser desse planeta vai passar seus dias, sejam quantos forem, buscando algo e vai morrer nessa busca ou em outra que decidiu ao longo do caminho.
O que de fato faria o homem se não fosse conduzido? Pela dificuldade de se viver ou, simplesmente, pela necessidade de existir, o homem aceita até o inaceitável. Tudo pela sobrevivência. Tudo pela perpetuação. Tudo pela prole. O estado dita regras pesadas aos ombros mais fracos. A máquina trabalha contrária a necessidade da maioria. Os que mais precisam sofrem e pagam muitas vezes com a dignidade aquilo que deveria ser de direito.

terça-feira, julho 03, 2007

A superação pelo Pan

Olhares atentos ao movimento, a cada lance. A cidade maravilhosa, sitiada, abre as portas da guerra civil para o esporte. Os Jogos Pan-Americanos começam esse mês para mostrar, principalmente aos brasileiros, que esporte é vida e superação. Esporte é espetáculo. É alegria. Glória e conquista.
Individual e coletivo. As modalidades são distintas. A conquista é uma só. O Suor, a expectativa, a adrenalina, a respiração e a explosão de cada atleta mostrará a todos um feixe de esperança, estampado no semblante de cada torcedor, de cada participante, que a sociedade pode sim ser melhor.
Os Jogos Pan-Americanos Rio 2007 vão reunir 5500 atletas de 42 países do continente em um sonho comum. Os povos se misturarão nas modalidades dos jogos em busca das almejadas medalhas. As batalhas do bem, em busca da conquista pessoal e da nação que disputa com seus atletas cada lance e cada movimento em atletismo, badminton, basquete, beisebol, boliche, boxe, canoagem, caratê, ciclismo, esgrima, esqui aquático, futebol, futsal, ginástica artística, ginástica rítmica, handebol, hipismo, hóquei de grama, judô, levantamento de peso, luta, maratona, maratona aquática, marcha atlética, nado sincronizado, natação, patinação, pentatlon, pólo aquático, remo, saltos ornamentais, softbol, squash, taekwondo, tênis, tênis de mesa, tiro, tiro com arco, trampolim, triatlo, vela, vôlei e vôlei de praia, elevará o orgulho patriótico de cada um ao extremo do sentimento.
A democracia do esporte colocará em disputa os povos como iguais. Na hora máxima do lance, o melhor sairá vitorioso por aquilo que é e por aquilo que fez para estar ali, naquele momento. As lentes registrarão cada expressão. Em cada pódium, cada medalha colocada no peito, cada recorde batido, encherá de orgulho não só o premiado, mas todos aqueles que o acompanharam, dos treinamentos à conquista e estampará nas páginas da história uma façanha a mais para seu país.
Uma das grandes virtudes da vida é ampliar os laços humanos e culturais. É esse o grande gancho do esporte e é essa a tarefa que o Rio de Janeiro tentará passar para todos e para o mundo. As disputas de interesses, a guerra civil instalada na cidade, as perdas de toda a sociedade e o horror estampado nas páginas de jornal, deverão dar lugar a integração dos povos e a celebração da vida que se dá de maneira tão contundente por meio do esporte.
Como ferramenta de inclusão, o esporte é poderoso. As modalidades parapan-americanas, estampam a superação do ser humano durante a prática. O esporte motiva a vida e transcende a competição. Quebrar um recorde ou superar a própria marca, faz com que a confiança se eleve para que as adversidades cotidianas possam ser enfrentadas com mais facilidade. O esporte é vida e também reflete a vida de cada um. A torcida de todos será um dos pontos fortes da competição. No final de cada disputa isolada, um estará no ponto mais alto, mas com ele toda uma nação sentirá na garganta o gosto da vitória e ao menos por um momento, os problemas serão esquecidos e a felicidade será plena.

terça-feira, junho 19, 2007

COMBATER A CORRUPÇÃO

A corrupção generalizada, que abrange os diversos segmentos do Estado brasileiro e as mais variadas atividades políticas e econômicas do país, tomou proporções endêmicas que nem o mais pessimista dos diagnósticos é capaz de mensurar. O conhecimento público que se fez por parte da mídia mostrou-se insuficientemente reprovador, visto as novas denúncias vindas do senado federal.
A falta de uma punição exemplar elevou o país a um novo patamar – o Brasil da impunidade. A própria indiferença da população para com o tema reafirma a coragem dos novos atos. Escândalos, fraudes, dossiês, propinas, barganhas, acordos, lobbys e novas acusações todos os dias serão apresentadas a uma sociedade incrédula com o sistema. A previsão não é uma façanha, é uma triste constatação de algo linear que acompanha o país há muitos anos. Manchetes em capas, chamadas em noticiários, repetições daquilo que nunca foi novidade nesse país. Corrupção costurada na carne, esmiuçada a exaustão, mas sem solução prática. Culpa da falta de punição, culpa da falta de vergonha na cara de políticos que prometeram trabalhar para a população e depois de eleitos fazem de tudo para sugar em benefício próprio as verbas e o dinheiro da sociedade.
Estamos em um ano ímpar. Isso significa que este é um ano sem eleições. Vale lembrar que a maioria das promessas feitas nas campanhas anteriores não foram cumpridas. Vale lembrar que muitos dos eleitos nas eleições anteriores estão novamente envolvidos em escândalos. Vale lembrar que no próximo ano teremos eleições. Esperemos pelas próximas promessas e pelas próximas mentiras faladas em palanques.
O que precisa ser feito para ao menos amenizar a corrupção em território nacional? Aumentar a fiscalização? Investir pesado em educação para que a população vote de forma mais consciente? Ou será que o problema é tão complexo que faz da solução uma utopia inatingível?
A corrupção não é um problema genético. A corrupção está intrinsecamente ligada a um dos mais desprezíveis qualificativos que a raça humana pode ser qualificada, a ganância. Os políticos com salários dezenas de vezes maiores que o mínimo distribuído a grande parte da população brasileira, ludibriam seus eleitores com seus acordos escusos e covardes. Saqueiam o patrimônio nacional utilizando para isso seus cargos que foram delegados pelo povo. Tiram da população para si próprios.
Nosso sistema não consegue impedir aqueles que ganham tirando do outro. Trocando em miúdos, não somos capazes de punir nossos principais ladrões. As falcatruas premeditadas são constantes que a sociedade convive diariamente sem ao menos se dar conta do prejuízo que isso causa para todos. As leis penais brasileiras não são suficientes para dar cabo desse mal. Uma ação efetiva do Estado pela transparência na administração pública e privada em todo o território passou da hora de acontecer. Combater a corrupção é reafirmar a democracia. Exemplos punitivos seriam manchetes melhores e com certeza mais absorvidas pela população. Ficam aqui os votos de que uma máxima popular seja cumprida antes das próximas eleições – "antes tarde do que nunca", mas que algo seja feito.

quarta-feira, maio 02, 2007

ESPEREMOS PELA PRÓXIMA MORTE

A violência é uma questão social. Talvez a mais difícil de todas as questões a que a sociedade é colocada. Não saber responder com uma solução prática esse problema é um dilema que o passar dos anos não conseguiu equacionar.
Imerso em um planeta banhado pela desigualdade, desde a colocação das cercas limitando às propriedades privadas, o homem se sente ameaçado. Perder aquilo que tem ou conseguir algo que não possuí são variáveis que ajudam a entender o abismo que é colocado ante os desiguais. O homem rouba e mata para conseguir o que não tem e também é capaz de matar para defender aquilo que conseguiu.
Pedras, lanças, armadilhas, cordas, espadas. Primeiras tentativas de proteção contra a inveja, contra a comparação, contra a ganância, contra o outro. No princípio, a proteção justifica o ato. Aldeias eram defendidas contra os ataques das aldeias maiores. O homem primitivo lutava contra seus iguais pela sobrevivência. Morria um a um. Homem matava homem. Guerras surgiram para mostrar o mais forte a todos os outros. Ataques se justificavam com a conquista. Mortes eram necessárias para montar um império. Expandir o próprio território em determinado momento da história passou a ser necessário por causa de um agravante inerente ao ser humano – o poder.
O mundo evoluiu com o tempo. Espadas ficaram no passado e ilustravam os livros mostrando os métodos primitivos dos antepassados. No lugar de tais artefatos, a pólvora surge e alavanca um imenso leque de possibilidades de destruição e morte. As aldeias depois de conquistadas e reconquistadas transformaram-se em impérios; esses deram luz às divisões cartográficas que conhecemos hoje – os países. Novas guerras fulguraram o mundo. Novas mortes, novos massacres. Enquanto isso, nos pormenores e não por isso menos importantes, as atrocidades regionais – roubos, assassinatos, seqüestros e todo o tipo de angústia e crueldade que o ser humano é capaz de inferir ao seu próximo.
A violência evoluiu. A busca por mais poder passou a ser a regra condutora. Poder gera violência. Poder destrói.
A quantidade de mortes anunciadas todos os dias por todos os jornais do planeta serve apenas como registro de um mundo que incorporou em sua rotina esse problema insolúvel. A violência é imbatível, é angustiante. Corrompe o fraco para engrandecer o mais forte. Desequilibra aquilo que nunca foi igual. Mancha de sangue cada ciclo da história, contando em capítulos o quão monstruoso e cruel tornou-se o mundo.
Crianças morrem e matam, dia após dia Mulheres são espancadas. Homens são torturados. Crimes e chacinas varrem o planeta. É impossível mensurar quantos morrem a cada minuto de morte não natural. As balas, chamadas de perdidas, foram disparadas com algum motivo e cada alvo almejado no fim das contas foi o correto, a própria sociedade. Quando cada tiro, disparo, facada, míssel ou qualquer outro mecanismo contra a vida é acionado, ao completar seu trajeto, marcará mais um ponto negativo nessa escalada infindável que a violência percorre. A população é refém daquilo que gerou e abastece. A violência não poupa ninguém, independente de classes sociais.
O horror que estampa a cara dos aflitos não é capaz de mudar o todo. A indignação nunca foi o bastante. É mais fácil esquecer o que aconteceu ontem que pensar em uma solução para o amanhã. Um grito de basta precisaria ser ecoado pela maioria. Enquanto isso não ocorre, esperamos pela próxima morte.

terça-feira, abril 10, 2007

Transcender a cronologia

O TEXTO ABAIXO É BASEADO EM OUTROS ARTIGOS DE MINHA AUTORIA.

No decorrer dos anos, as diferentes escolas artísticas construíram de maneira linear um novo jeito de se contar o mundo. A arte criou, a arte construiu e a arte imitou. Artistas e autores especializaram-se em categorias, criaram clássicos que encantam pessoas através dos anos. Mundos foram idealizados, personagens imaginados, cenários registrados, manifestações imortalizadas e dessa maneira, uma legião de sonhadores vivenciaram e transmitiram suas emoções às gerações seguintes. Filhos passaram aos netos e assim por diante.
O artista, na acepção da palavra, é um cidadão do mundo, um homem de seu tempo, mas, com a capacidade inata de transcender a cronologia. Para tanto, sua obra deve ser exposta, exibida, mostrada ao mundo em sua forma mais singular, como arte. Mas, a inquietude e o medo impostos em cada ciclo de gerações construíram barreiras das mais complicadas aos artistas e estas tiveram que ser superadas uma a uma ao longo da história.
No Brasil, nos tempos da caloria ditatorial, as pessoas cantavam "Aqui na terra estão jogando o futebol..." e continuam, pois o que mais interessa ao jovem de hoje é o placar reluzente informando a vitória do time de coração e a metáfora embutida na letra de nosso caro amigo Chico perdeu-se. Isso ocorre, pois é passado o tempo da indignação. A revolta resultante da censura não existe mais. Estudantes não vão mais às ruas apoiar o que acham correto, tampouco de caras pintadas pedindo explicações. Os tempos são outros. Estamos na era individual, onde os rebeldes não têm mais lugar em nossa sociedade. Mas, a obra de arte, a letra que foi cantada por toda uma geração permanece presente nos dias de hoje e, provavelmente, permanecerá para os próximos que ainda virão.
Não importa o caminho, o material, a construção, o tempo que levou para ser concluída, arte é expressão e toda expressão que consegue transpor os limites do cenário o qual ela foi concebida, ultrapassa também as linhas do tempo e finca um marco no calendário presente para ser consultada num futuro qualquer. Poesia, pintura, música, literatura, dança, escultura e todas as outras formas que o vocábulo arte permite expressar-se colocam o autor em sua evidência particular para uma evidência histórica à posteriori.
A história pessoal de cada um pode ser contada também pela arte que consumiu ao longo de sua vida. O ser humano, ao deixar o mundo, terá consigo uma seqüência de obras vistas e vividas diferente de todas as outras pessoas.
Único.

quinta-feira, abril 05, 2007

Se a matemática explicasse...

A falta de um parâmetro específico de mensuração faz do homem um ser conflitante e com isso suas idéias e anseios são movidos pela emoção ou pela razão. Aqueles que, supostamente, agem sem interferência externa, usando apenas sua lógica própria de escolha, são pessoas privilegiadas.
Em um mundo onde os quesitos e parâmetros aceitos são ditados por poucos, o homem com seu eterno dilema que o leva sempre a buscar algo, muitas vezes inacessível, sofre e se desgasta como indivíduo.
Agora pergunto: Onde fica a evolução nesse caso?
Do outro lado do espelho onde a razão se enxerga, a imagem da emoção se distorce e pede para ser aceita. Viver um mundo concreto, analisando os fatos de maneira específica e matemática, criticar e calcular as possibilidades encontradas sem ao menos cogitar a possibilidade do risco não é inerente à maioria dos seres humanos. O homem sente, busca, quer, deseja, sonha. Vive a própria emoção de maneira intensa. Luta contra fortes e fracos. Luta contra si mesmo. A épica batalha da razão x emoção não tem data marcada para terminar pois isso não vai ocorrer. A interpretação dos valores é movida por essas duas constantes que sempre existirão dentro de cada um.

terça-feira, março 13, 2007

A sociedade está doente

Em tempos de tantos problemas, os questionamentos da sociedade apontam para os mais diversos lados. Fatores sociais, climáticos, civis. Problemas de violência que se alastraram como pandemia dos grandes centros para o interior. Problemas e mais problemas que vem sendo estudados com soluções em longo prazo. Acontece que em longo prazo, novas dificuldades surgem para alinhar-se as primeiras fazendo com que a cada dia passado, o planeta tenha novos obstáculos a serem superados.
O grande desafio do mundo contemporâneo é o desenvolvimento sustentável. De que forma é possível transformar conhecimento em riqueza sem que necessariamente essa prática agrave as mazelas do mundo? Como transformar conhecimento em qualidade de vida para dessa forma atender as necessidades crescentes da população e preservar ao mesmo tempo a qualidade de vida do planeta? Questionamentos difíceis de obter-se respostas práticas.
A cada dia o mundo padece mais. Um passo de avanço tecnológico implica diretamente dois passos contrários na qualidade de vida do planeta. Não deveria ser o contrário? Boa pergunta.
A corrida tecnológica, que teve seu início décadas atrás, motivou o surgimento de novas potências, que correm nas linhas do capitalismo dinâmico onde o estático, definha. A lógica da produção cria paradoxos insolúveis para a sociedade. Produzir riqueza gera pobreza. Produzir tecnologia gera poluição. Hoje, a defesa de um país dá-se atacando aos demais. A repressão da violência gera todos os dias mais casos de violência. Vivemos em uma sociedade transformada pelo caos. O caos da inversão de valores. Matamos para sobreviver e não para nos proteger. Produzimos para concorrer e não para suprir. Estudamos para enriquecer e não para servir.
Os constantes avanços da ciência, relatados euforicamente à sociedade, sugerem uma profunda reflexão: Como agregar valor ao conhecimento sem que esse valor beneficie um e sim a totalidade?
O planeta está em risco. A sociedade está em risco. As alterações climáticas provam com toda a força que nosso ambiente foi transformado. O ano de 2007 foi o que menos apresentou neve, desde 1977, no inverno europeu. No Brasil, a qualidade de nosso ar nunca esteve tão comprometida. A umidade relativa nunca esteve tão baixa. Pagamos com nossa saúde pelos nossos próprios erros e por nossa total falta de iniciativa. Somos culpados por essas inversões. Estamos colhendo os piores frutos da pior colheita de todos os tempos. Os sinais são claros e a preocupação pouca.
Toda uma geração está vivenciando os sinais óbvios daquilo que não está certo. As próximas gerações pagarão por nossos erros, se esses não forem corrigidos a tempo. O futuro promissor da humanidade esbarra na negligência de toda a sociedade. Chegamos no ponto onde viver mais significa presenciar mais problemas e viver menos significa ser índice de mensuração desses mesmos problemas. Estamos matando, destruindo e acabando com tudo aquilo que vale a pena.
O planeta está doente, pois a sociedade está doente. O que falta ser noticiado para que os valores se invertam para suas posições originais? Preservar o presente para ter um futuro é uma máxima que parece ter perdido o sentido.

terça-feira, março 06, 2007

Um mundo sem escolhas

Meu avô é palmeirense.
Meu pai é português.
Eu sou universitário.
Três gerações ligadas por três quesitos diferentes. O time de coração, a nacionalidade e a situação acadêmica. É claro que eu posso escolher várias classificações que nos enquadrem, todos, no mesmo conjunto. Mas, não é minha intenção. Quero discutir as diferenças e não os laços. Existe beleza na escolha.
Todo dia, ao acordar, escolhemos o que fazer. É sempre uma escolha. Uma escolha de vida ou uma escolha para viver. Saímos de casa para nossos empregos, nossas aulas, nossos assuntos particulares, nossas reuniões, nosso lazer, nossa vida.
De carro, de ônibus ou caminhando, somos guiados ou nos guiamos até nossos destinos. Seguimos uma rotina. Criamos e obedecemos a ela. Desde os primeiros afazeres do dia, por mais simples que sejam, seguimos uma escolha. Comprar pão na padaria, levar o cachorro para passear, recolher o jornal, escovar os dentes, botar o lixo pra fora, fazer uma caminhada, ligar a TV. Cada um é completamente diferente do outro. Muitos fazem o que gostam. Outros tantos fazem o que precisam.
Contrariamos o livre arbítrio na hora que somos condicionados. Trabalhamos naquilo que não gostamos para pagar nossas despesas. Estudamos o que não temos vocação em busca de um ideal de vida. Torcemos por futebol para espelhar as conquistas e derrotas em nosso cotidiano. Assistimos às novelas em busca de uma realização apenas visual. Acompanhamos a vida fictícia de outros, pois procuramos escapes para as nossas vidas. O mundo é visual. Visual é aparente.
Os publicitários nos vendem sonhos. Vendem modelos. Vendem produtos que muitas vezes ficam bem nos modelos e não ficam bem na maioria da população. Somos enganados, ou melhor, somos direcionados. Escolhemos o que vestir, o que calçar, o carro que vamos comprar, a bebida e a comida que vamos consumir pela escolha de outros. Em todos os momentos de nossos dias, ficamos expostos à exaustiva tentativa dos vendedores de ilusão.
Escolhemos nosso time de futebol, como meu avô o fez. Meu pai não pôde escolher o país onde nasceu. Escolhi fazer universidade, pois um dia acreditei que isso seria bom para meu futuro. Temos o poder de escolher. Podemos ser bons filhos, bons chefes de família, bons funcionários, bons torcedores. Outras escolhas são mais difíceis de fazer, pois todo um universo parece conspirar na hora de nossa opção.
Não desejamos um objeto por ele ser em si desejável, mas sim por ele ser desejado por alguém. Gastamos nosso dinheiro para comprar algo que serviria melhor em outra pessoa. Vivemos a sociedade do ter para ser. Do comprar para ser aceito. Da renúncia das escolhas. Cedemos nosso direito do inédito e individual pelo em série, pelo coletivo. Compramos para sermos mais um e não para sermos diferentes. O coletivo está transformando-se em padrão.
O mundo atual, com suas rivalidades implícitas, transformou-se em um grande palco controlado. A população ocupa o cargo de marionetes do sistema que é regido pelas grandes corporações. Vivemos hoje uma situação inversa que ocorria nos tempos de ditadura. O clamor pela liberdade de escolha transformou-se passivamente em escolhas cedidas e aceitas. Compramos o que nos oferecem. Ao menos o meu time de coração eu ainda pude escolher. É o mesmo de meu avô.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Oscar, mega sena e futebol


Em tempos de vida comum, em mais um ano começado fora do tempo real, o carnaval ficou para trás.
Plumas e serpentinas varridas dos salões. Fantasias e alegorias desmontadas. As avenidas do samba voltaram a ser o que eram. Apenas avenidas.
O ano começou de fato. Ao menos para a maioria dos brasileiros que não participam do Big Brother Brasil. Um show de notícias nos comprova isso.
As contas e impostos de boas festas devem ou deveriam estar pagas. O presidente continua sua reflexão a respeito de sua nova equipe. Os aeroportos continuam com problemas. Na Inglaterra o príncipe vai à guerra. E nos Estados Unidos, Britney Spears apareceu com um novo corte de cabelos, ou melhor, sem cabelos.
Tudo é notícia. Nova ou velha. Diria reciclada. A notícia quase sempre é reciclada.
Todos os problemas do mundo não conseguem ofuscar o oscar 2007. Não seria justo tirar o momento de glória máxima da vida de Scorsese, que recebeu sua primeira estatueta depois de sete indicações. Foi justo? Não me interessa.
A mega sena vive acumulando. Acumulando sonhos e mais sonhos de milhares de brasileiros que trocam o pão com manteiga da manhã pelo bilhete que leva ao sonho. Qual sonho? Riqueza, poder, popularidade. Ser o rosto que aparece nas páginas da revista Caras. Ser diferente daquilo que somos. Comprar aquilo que precisamos apenas para mostrar aos outros. O mundo está diferente.
Vivemos em um mar de informação. Recebemos todos os dias uma imensidão de imagens, textos, relatos, depoimentos, estatísticas, anúncios e tudo mais que venha pelo canal transmissor – receptor. Não estou bem certo do quanto à maioria da população absorve disso tudo. Não sei também o quanto somos educados pela informação. O ciclo é envolvente. A cadeia começa desde cedo.
Os jovens prestaram vestibular. Escolheram uma carreira folheando um manual. Estudaram ao longo de um ano inteiro para receber as cores da guachê vitoriosa sobre a face. Brindaram e beberam a primeira semana de aula. Já passou. Agora é realidade. Aulas e mais aulas de matérias que irão por à prova à verdadeira aptidão de cada um. Os bons decerto vencerão.
Depois de vencido algo na vida, seja uma graduação em uma boa universidade, um prêmio no oscar ou acertar os números da loteria, o que acontece depois? Dinheiro, fama, realização. O que é verdadeiramente importante. Cada um com sua resposta.
A sorte do brasileiro é que existe futebol. Campeonatos regionais, estaduais, das mais variadas divisões. Campeonato nacional e copas internacionais. A seleção também sempre joga. Em dias certos, dias estudados, dias pensados. Como se fosse um calmante fortíssimo que deve ser ministrado apenas com receita e em determinados casos. O caso é sempre o mesmo e os problemas não estão sendo curados.
O Brasil é um país bom porque existe bom futebol. Ainda é válida essa máxima?
Os Estados Unidos ainda são aplaudidos por causa do oscar? O oscar continua sendo uma grande premiação ou virou apenas, uma festa?
O mundo está evoluindo ou regredindo? Vejo as pessoas cada vez mais preocupadas com conquistas pessoais do que com o conjunto da obra. Salvo às exceções.
Existem milhares de exceções.
Poderiam ser milhões.

sábado, janeiro 06, 2007

Chuva de Janeiro

O ano já é outro. O dígito mudou. Ao invés do número seis, usaremos agora o sete para preenchermos a lacuna das folhas de cheque. Somamos a este novo ano a esperança de toda uma população por dias melhores. Dias mais justos. Dias de paz.
Um ano que começa tem a particularidade de ser detentor de qualquer assunto. É um ano em branco. Um ano a ser escrito. Por esse motivo, não vale a pena sujá-lo fazendo referências às coisas ruins que estragaram parte do brilho de 2006.
Falar de política nesse primeiro momento é o mesmo que praguejar o ano novo que não tem culpa e relembrar do ano que deve ser esquecido ou ao menos deixado pra trás quando o assunto é corrupção. Boas aspirações são sempre bem-vindas e de minha parte, como brasileiro crente e esperançoso, desejo ao presidente que foi empossado no dia primeiro desse ano, mais uma vez comandante máximo da nação – Sorte e bom senso.
Com um ano inteiro pela frente, o leque de papel que vejo abaixo das linhas que agora escrevo são puros. Decidi deixar tudo de ruim no passado, escolhi não escrever mais sobre aquilo que já foi massacrado por tantos, inclusive por mim. Minha escolha é pelo novo, pelo inédito, pelos bons fluídos, pela esperança de um novo Brasil, pela crença em justiça e igualdade. Escrevo para celebrar e almejar. Já é passada a hora de lamentar.
Ligamos a TV em janeiro e sempre vemos a mesma coisa. Vinhetas guiando a chegada ainda discreta do carnaval. Propagandas de novos seriados. Novas mega-produções televisivas abordando um novo ponto de nossa história, sempre tão mal estudada por nossos alunos. Chamadas para o novo – tão velho e batido – reality-show. Preparativos dos times de futebol para os tão disputados e aguardados campeonatos regionais. Incentivos e receitas a todos aqueles que querem uma vida nova, dentro de um novo ano. Filmes repetidos. Promessas fracassadas que de tão veiculadas fazem parte de nossa cultura. O ano novo parece-me velho. Só parece.
As tardes de janeiro são diferentes. Passam de forma desigual. Pedem chuva para marcá-las como únicas. Chove todo dia. Chove muito. Chove por muitos motivos e um deles é o de mostrar a falta de preparos da administração pública para com a cidade. A chuva de janeiro serve para mostrar a falta de qualidade do asfalto eleitoreiro. Serve para mostrar o quão sofrido pode ser um começo de ano para uma família que mora em lugares impróprios. A chuva forte cai para limpar o ranço do ano que se passou e deixar uma enxurrada de problemas que já foram pautados há tantos anos atrás.
Ano novo. Velhos problemas. Eternos dilemas. Lamentar não é correto. O correto é trabalhar. Que a energia celebrada nos primeiros minutos de 2007 sirva ao menos como estopim de incentivo para um ano diferente. Sejais vós políticos e administradores públicos, carregados pelo remorso transmitido pelos seus iguais, diferentes este ano. Façam o que lhes cabem. Governem para aqueles que os elegeram. Trabalhem e levem a sério o cargo que ocupam. Façam o mesmo que gostariam que fizessem aos seus filhos.
Bom ano. Boa administração. Boa sorte.