terça-feira, março 13, 2007

A sociedade está doente

Em tempos de tantos problemas, os questionamentos da sociedade apontam para os mais diversos lados. Fatores sociais, climáticos, civis. Problemas de violência que se alastraram como pandemia dos grandes centros para o interior. Problemas e mais problemas que vem sendo estudados com soluções em longo prazo. Acontece que em longo prazo, novas dificuldades surgem para alinhar-se as primeiras fazendo com que a cada dia passado, o planeta tenha novos obstáculos a serem superados.
O grande desafio do mundo contemporâneo é o desenvolvimento sustentável. De que forma é possível transformar conhecimento em riqueza sem que necessariamente essa prática agrave as mazelas do mundo? Como transformar conhecimento em qualidade de vida para dessa forma atender as necessidades crescentes da população e preservar ao mesmo tempo a qualidade de vida do planeta? Questionamentos difíceis de obter-se respostas práticas.
A cada dia o mundo padece mais. Um passo de avanço tecnológico implica diretamente dois passos contrários na qualidade de vida do planeta. Não deveria ser o contrário? Boa pergunta.
A corrida tecnológica, que teve seu início décadas atrás, motivou o surgimento de novas potências, que correm nas linhas do capitalismo dinâmico onde o estático, definha. A lógica da produção cria paradoxos insolúveis para a sociedade. Produzir riqueza gera pobreza. Produzir tecnologia gera poluição. Hoje, a defesa de um país dá-se atacando aos demais. A repressão da violência gera todos os dias mais casos de violência. Vivemos em uma sociedade transformada pelo caos. O caos da inversão de valores. Matamos para sobreviver e não para nos proteger. Produzimos para concorrer e não para suprir. Estudamos para enriquecer e não para servir.
Os constantes avanços da ciência, relatados euforicamente à sociedade, sugerem uma profunda reflexão: Como agregar valor ao conhecimento sem que esse valor beneficie um e sim a totalidade?
O planeta está em risco. A sociedade está em risco. As alterações climáticas provam com toda a força que nosso ambiente foi transformado. O ano de 2007 foi o que menos apresentou neve, desde 1977, no inverno europeu. No Brasil, a qualidade de nosso ar nunca esteve tão comprometida. A umidade relativa nunca esteve tão baixa. Pagamos com nossa saúde pelos nossos próprios erros e por nossa total falta de iniciativa. Somos culpados por essas inversões. Estamos colhendo os piores frutos da pior colheita de todos os tempos. Os sinais são claros e a preocupação pouca.
Toda uma geração está vivenciando os sinais óbvios daquilo que não está certo. As próximas gerações pagarão por nossos erros, se esses não forem corrigidos a tempo. O futuro promissor da humanidade esbarra na negligência de toda a sociedade. Chegamos no ponto onde viver mais significa presenciar mais problemas e viver menos significa ser índice de mensuração desses mesmos problemas. Estamos matando, destruindo e acabando com tudo aquilo que vale a pena.
O planeta está doente, pois a sociedade está doente. O que falta ser noticiado para que os valores se invertam para suas posições originais? Preservar o presente para ter um futuro é uma máxima que parece ter perdido o sentido.

terça-feira, março 06, 2007

Um mundo sem escolhas

Meu avô é palmeirense.
Meu pai é português.
Eu sou universitário.
Três gerações ligadas por três quesitos diferentes. O time de coração, a nacionalidade e a situação acadêmica. É claro que eu posso escolher várias classificações que nos enquadrem, todos, no mesmo conjunto. Mas, não é minha intenção. Quero discutir as diferenças e não os laços. Existe beleza na escolha.
Todo dia, ao acordar, escolhemos o que fazer. É sempre uma escolha. Uma escolha de vida ou uma escolha para viver. Saímos de casa para nossos empregos, nossas aulas, nossos assuntos particulares, nossas reuniões, nosso lazer, nossa vida.
De carro, de ônibus ou caminhando, somos guiados ou nos guiamos até nossos destinos. Seguimos uma rotina. Criamos e obedecemos a ela. Desde os primeiros afazeres do dia, por mais simples que sejam, seguimos uma escolha. Comprar pão na padaria, levar o cachorro para passear, recolher o jornal, escovar os dentes, botar o lixo pra fora, fazer uma caminhada, ligar a TV. Cada um é completamente diferente do outro. Muitos fazem o que gostam. Outros tantos fazem o que precisam.
Contrariamos o livre arbítrio na hora que somos condicionados. Trabalhamos naquilo que não gostamos para pagar nossas despesas. Estudamos o que não temos vocação em busca de um ideal de vida. Torcemos por futebol para espelhar as conquistas e derrotas em nosso cotidiano. Assistimos às novelas em busca de uma realização apenas visual. Acompanhamos a vida fictícia de outros, pois procuramos escapes para as nossas vidas. O mundo é visual. Visual é aparente.
Os publicitários nos vendem sonhos. Vendem modelos. Vendem produtos que muitas vezes ficam bem nos modelos e não ficam bem na maioria da população. Somos enganados, ou melhor, somos direcionados. Escolhemos o que vestir, o que calçar, o carro que vamos comprar, a bebida e a comida que vamos consumir pela escolha de outros. Em todos os momentos de nossos dias, ficamos expostos à exaustiva tentativa dos vendedores de ilusão.
Escolhemos nosso time de futebol, como meu avô o fez. Meu pai não pôde escolher o país onde nasceu. Escolhi fazer universidade, pois um dia acreditei que isso seria bom para meu futuro. Temos o poder de escolher. Podemos ser bons filhos, bons chefes de família, bons funcionários, bons torcedores. Outras escolhas são mais difíceis de fazer, pois todo um universo parece conspirar na hora de nossa opção.
Não desejamos um objeto por ele ser em si desejável, mas sim por ele ser desejado por alguém. Gastamos nosso dinheiro para comprar algo que serviria melhor em outra pessoa. Vivemos a sociedade do ter para ser. Do comprar para ser aceito. Da renúncia das escolhas. Cedemos nosso direito do inédito e individual pelo em série, pelo coletivo. Compramos para sermos mais um e não para sermos diferentes. O coletivo está transformando-se em padrão.
O mundo atual, com suas rivalidades implícitas, transformou-se em um grande palco controlado. A população ocupa o cargo de marionetes do sistema que é regido pelas grandes corporações. Vivemos hoje uma situação inversa que ocorria nos tempos de ditadura. O clamor pela liberdade de escolha transformou-se passivamente em escolhas cedidas e aceitas. Compramos o que nos oferecem. Ao menos o meu time de coração eu ainda pude escolher. É o mesmo de meu avô.