quarta-feira, maio 02, 2007

ESPEREMOS PELA PRÓXIMA MORTE

A violência é uma questão social. Talvez a mais difícil de todas as questões a que a sociedade é colocada. Não saber responder com uma solução prática esse problema é um dilema que o passar dos anos não conseguiu equacionar.
Imerso em um planeta banhado pela desigualdade, desde a colocação das cercas limitando às propriedades privadas, o homem se sente ameaçado. Perder aquilo que tem ou conseguir algo que não possuí são variáveis que ajudam a entender o abismo que é colocado ante os desiguais. O homem rouba e mata para conseguir o que não tem e também é capaz de matar para defender aquilo que conseguiu.
Pedras, lanças, armadilhas, cordas, espadas. Primeiras tentativas de proteção contra a inveja, contra a comparação, contra a ganância, contra o outro. No princípio, a proteção justifica o ato. Aldeias eram defendidas contra os ataques das aldeias maiores. O homem primitivo lutava contra seus iguais pela sobrevivência. Morria um a um. Homem matava homem. Guerras surgiram para mostrar o mais forte a todos os outros. Ataques se justificavam com a conquista. Mortes eram necessárias para montar um império. Expandir o próprio território em determinado momento da história passou a ser necessário por causa de um agravante inerente ao ser humano – o poder.
O mundo evoluiu com o tempo. Espadas ficaram no passado e ilustravam os livros mostrando os métodos primitivos dos antepassados. No lugar de tais artefatos, a pólvora surge e alavanca um imenso leque de possibilidades de destruição e morte. As aldeias depois de conquistadas e reconquistadas transformaram-se em impérios; esses deram luz às divisões cartográficas que conhecemos hoje – os países. Novas guerras fulguraram o mundo. Novas mortes, novos massacres. Enquanto isso, nos pormenores e não por isso menos importantes, as atrocidades regionais – roubos, assassinatos, seqüestros e todo o tipo de angústia e crueldade que o ser humano é capaz de inferir ao seu próximo.
A violência evoluiu. A busca por mais poder passou a ser a regra condutora. Poder gera violência. Poder destrói.
A quantidade de mortes anunciadas todos os dias por todos os jornais do planeta serve apenas como registro de um mundo que incorporou em sua rotina esse problema insolúvel. A violência é imbatível, é angustiante. Corrompe o fraco para engrandecer o mais forte. Desequilibra aquilo que nunca foi igual. Mancha de sangue cada ciclo da história, contando em capítulos o quão monstruoso e cruel tornou-se o mundo.
Crianças morrem e matam, dia após dia Mulheres são espancadas. Homens são torturados. Crimes e chacinas varrem o planeta. É impossível mensurar quantos morrem a cada minuto de morte não natural. As balas, chamadas de perdidas, foram disparadas com algum motivo e cada alvo almejado no fim das contas foi o correto, a própria sociedade. Quando cada tiro, disparo, facada, míssel ou qualquer outro mecanismo contra a vida é acionado, ao completar seu trajeto, marcará mais um ponto negativo nessa escalada infindável que a violência percorre. A população é refém daquilo que gerou e abastece. A violência não poupa ninguém, independente de classes sociais.
O horror que estampa a cara dos aflitos não é capaz de mudar o todo. A indignação nunca foi o bastante. É mais fácil esquecer o que aconteceu ontem que pensar em uma solução para o amanhã. Um grito de basta precisaria ser ecoado pela maioria. Enquanto isso não ocorre, esperamos pela próxima morte.