terça-feira, março 06, 2007

Um mundo sem escolhas

Meu avô é palmeirense.
Meu pai é português.
Eu sou universitário.
Três gerações ligadas por três quesitos diferentes. O time de coração, a nacionalidade e a situação acadêmica. É claro que eu posso escolher várias classificações que nos enquadrem, todos, no mesmo conjunto. Mas, não é minha intenção. Quero discutir as diferenças e não os laços. Existe beleza na escolha.
Todo dia, ao acordar, escolhemos o que fazer. É sempre uma escolha. Uma escolha de vida ou uma escolha para viver. Saímos de casa para nossos empregos, nossas aulas, nossos assuntos particulares, nossas reuniões, nosso lazer, nossa vida.
De carro, de ônibus ou caminhando, somos guiados ou nos guiamos até nossos destinos. Seguimos uma rotina. Criamos e obedecemos a ela. Desde os primeiros afazeres do dia, por mais simples que sejam, seguimos uma escolha. Comprar pão na padaria, levar o cachorro para passear, recolher o jornal, escovar os dentes, botar o lixo pra fora, fazer uma caminhada, ligar a TV. Cada um é completamente diferente do outro. Muitos fazem o que gostam. Outros tantos fazem o que precisam.
Contrariamos o livre arbítrio na hora que somos condicionados. Trabalhamos naquilo que não gostamos para pagar nossas despesas. Estudamos o que não temos vocação em busca de um ideal de vida. Torcemos por futebol para espelhar as conquistas e derrotas em nosso cotidiano. Assistimos às novelas em busca de uma realização apenas visual. Acompanhamos a vida fictícia de outros, pois procuramos escapes para as nossas vidas. O mundo é visual. Visual é aparente.
Os publicitários nos vendem sonhos. Vendem modelos. Vendem produtos que muitas vezes ficam bem nos modelos e não ficam bem na maioria da população. Somos enganados, ou melhor, somos direcionados. Escolhemos o que vestir, o que calçar, o carro que vamos comprar, a bebida e a comida que vamos consumir pela escolha de outros. Em todos os momentos de nossos dias, ficamos expostos à exaustiva tentativa dos vendedores de ilusão.
Escolhemos nosso time de futebol, como meu avô o fez. Meu pai não pôde escolher o país onde nasceu. Escolhi fazer universidade, pois um dia acreditei que isso seria bom para meu futuro. Temos o poder de escolher. Podemos ser bons filhos, bons chefes de família, bons funcionários, bons torcedores. Outras escolhas são mais difíceis de fazer, pois todo um universo parece conspirar na hora de nossa opção.
Não desejamos um objeto por ele ser em si desejável, mas sim por ele ser desejado por alguém. Gastamos nosso dinheiro para comprar algo que serviria melhor em outra pessoa. Vivemos a sociedade do ter para ser. Do comprar para ser aceito. Da renúncia das escolhas. Cedemos nosso direito do inédito e individual pelo em série, pelo coletivo. Compramos para sermos mais um e não para sermos diferentes. O coletivo está transformando-se em padrão.
O mundo atual, com suas rivalidades implícitas, transformou-se em um grande palco controlado. A população ocupa o cargo de marionetes do sistema que é regido pelas grandes corporações. Vivemos hoje uma situação inversa que ocorria nos tempos de ditadura. O clamor pela liberdade de escolha transformou-se passivamente em escolhas cedidas e aceitas. Compramos o que nos oferecem. Ao menos o meu time de coração eu ainda pude escolher. É o mesmo de meu avô.

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