sexta-feira, julho 31, 2009

Bons tempos não existem mais

Um velho texto meu, que ainda serve bem para os dias de hoje
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É passado o tempo da indignação. A revolta resultante da censura não existe mais. Estudantes não vão mais às ruas apoiar o que acham correto, tampouco de caras pintadas pedindo explicações. Os tempos são outros. Estamos na era individual, onde os rebeldes não têm mais lugar em nossa sociedade.
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Iniciar um texto dessa forma mostra bem o quão incrédulo estou com o sistema. Em um passado muito recente, o sentimento apaixonado e patriótico inflamado pela repudia a ditadura fez história. Páginas de livros contam o quão importantes foram os estudantes e quantos feitos foram realizados para mostrar toda a aversão contra a injustiça.
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Hoje, ao abrir um jornal, qualquer que seja ele, é difícil encontrar uma nota que seja retratando alguma inquietude. No mais calórico dos atos, estudantes indignados com o aumento do preço das passagens de ônibus, voltam às ruas e pedem por aquilo que é de direito. Onde está o problema? Ao meu ver, está na cumplicidade que já não existe. Os pais de hoje, estudantes de ontem, lembram bem dos anos difíceis que viveram e sabem contar como mais ninguém a vergonha daqueles tempos. Os quilômetros de letras de música que foram escritas por nossos artistas, censuradas e boicotadas pela inquisição brasileira, são memórias de um tempo difícil e hoje ao cantá-las, os jovens não conseguem a sintonia que foi esquecida pelo comodismo.
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"Aqui na terra estão jogando o futebol..." e continuam, pois o que mais interessa ao jovem de hoje é o placar reluzente informando a vitória do time de coração e a metáfora embutida na letra de nosso caro amigo Chico perdeu-se. Todo o processo que o país atravessou para enfim ter direito ao voto tem um valor acima daquilo que é estudado para as provas de vestibular. Os discursos inflamados de estudantes e políticos que tinham um sonho comum, evocados em palanques gigantescos ecoaram por todo o território em um grito comum – Diretas Já. As diferenças vieram com o passar dos anos, mas o prazer supremo retratado dentro do ser de todos aqueles que contribuíram de alguma forma para um Brasil mais justo é lembrança eterna, que debate algum será capaz de apagar.
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Um comercial televisivo me fez pensar em algo que realmente faz sentido. No decorrer da performance cibernética da computação gráfica, um andróide ensina a forma de alcançar a eternidade – Basta fazer uma coisa notável para que você seja para sempre lembrado. É algo a se pensar. Foi, é e continua sendo um dos maiores temores do homem a morte ou ainda pior, o esquecimento após a morte. Estou divagando a respeito de um comercial, mas garanto que minha intenção não é a de fugir do tema. Pelo contrário. A intenção é a de marcar a ferro uma verdade incomoda que percebo nessa nova geração – o comodismo causado por essa falsa liberdade. Talvez Sartre, caso ainda fosse vivo, seria o melhor indicado para discursar a respeito dessa liberdade manipulada que nossa sociedade vive mergulhada. Uma liberdade guiada por programas de TV, por falsas notícias, por uma educação média, por políticos sem ideologia e pior, por desinteresse total norteado pela falta de fé.
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Os Anos Dourados não podem ficar no passado dos livros. As grandes causas não podem ser atribuídas somente ao governo. Os sonhos deveriam voltar. O amor pelo país precisa transcender o orgulho esportivo. O interesse pela política nacional nunca deveria ter sido perdido e se foi um dia, está mais que na hora de ser resgatado.

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